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Alunos da escola pública em visita ao Lab. de Física do IFCE

quinta-feira, 4 de abril de 2013


Um modelo de Educação centrado na aprendizagem

Fonte: Sales (2005)

            No paradigma educacional centrado no ensino, marcante na escola tradicional, o professor tem por função transmitir conhecimento de forma linear, compartimentado e acabado, tendo o aluno o papel de receptor passivo e a responsabilidade de aprender (CARRAHER, 1986).

            Este modelo está sendo substituído por um novo paradigma: o paradigma construtivista, centrado na aprendizagem, no aluno e na construção do conhecimento.

            Neste paradigma, compreende-se aluno como um ser ativo que gerencia sua própria aprendizagem: pensando, articulando idéias e construindo representações mentais na solução de problemas, constituindo-se no gerador de seu próprio conhecimento.

            Entretanto, a maioria de nossas escolas ainda pratica uma abordagem tradicional. Essa abordagem considera o aluno como um objeto numa linha de montagem, no qual o conhecimento é depositado pronto e acabado, e sua única obrigação é passivamente digeri-los e reproduzi-los quando solicitado.

            Segundo Valente (1999), a mudança que hoje opera na produção de bens e serviços, do paradigma da produção em massa, ditado por alguém que empurra a produção, para o da produção enxuta, puxada pelas necessidades do cliente, implicará em profundas mudanças no sistema educacional.

A educação deverá operar segundo este novo paradigma. Isso implicará em professores melhores qualificados, não para empurrar a informação ao aluno, mas para saber criar situações onde o aluno “puxa” a informação. O conhecimento deverá ser fruto do processamento dessa informação [...] Isso exigirá do aluno a compreensão do que está fazendo para saber tomar decisões, atuar e realizar tarefas (VALENTE, 1999, p.30).

            Mudança de paradigma é algo que demanda tempo. Entretanto, é preciso agir, iniciando-se por estabelecer diálogos com os envolvidos no processo ensino-aprendizagem que os levem a buscar uma nova práxis pedagógica de forma a produzir ressignificações no ser, no fazer e no compreender.

Ao moldar um novo “ser professor” e um novo “ser aluno” deve-se colocar em prática o que propõe Valente (1998) ao afirmar que no paradigma construtivista, a aprendizagem deve ser a prioridade, que o controle de seu processo esteja nas mãos do aprendiz, que por meio de seu engajamento intelectual participa do processo de construção do conhecimento, e que o professor compreenda que educação não é só a transmissão do conhecimento, mas sua construção pelo aluno.

            Na esfera do “novo fazer” e do “novo compreender” propõe-se a criação de ambientes de aprendizagem que levem o aluno a realizar suas atividades e construir seu conhecimento de forma a transformá-lo num ser criativo, crítico, que amplifique sua capacidade de pensar, de aprender a aprender, de trabalhar em grupo, de fazer uso de tecnologias da informação e de cada vez mais desenvolver seu potencial cognitivo, afetivo e social, não de forma individual, mas como sujeito coletivo.

            Para Lévy (1993) o desenvolvimento destes ambientes de aprendizagem é o resultado de uma nova ciência, “a ecologia cognitiva” [1], onde o ‘eu’ dá lugar à coletividade e valoriza-se a interação social e o meio cultural: “Não sou ‘eu’ que sou inteligente, mas ‘eu’ com o grupo humano do qual sou membro, com minha língua, com toda uma herança de métodos e tecnologias intelectuais” (p.135). Reforçando a idéia de um ser coletivo, cita-se Freire (1981): “Conhecer que é sempre um processo, supõe uma situação dialógica. Não há, estritamente falando, um ‘eu penso’, mas um ‘nós pensamos’” (p. 71).

            É possível que este seja o caminho para um fazer pedagógico mais próximo do aluno que do professor, mais próximo da aprendizagem que do ensino, mais construtivista que tradicional.

            O quadro a seguir (Quadro 1), fundamentado em Carraher (1986), complementa e auxilia na compreensão dos paradigmas tradicional e construtivista de educação que vem sendo exposto, ao apresentar uma síntese e fazer um paralelo entre estes modelos e os elementos envolvidos no processo educacional.


TRADICIONAL

CONSTRUTIVISTA
CONHECIMENTO
-É algo pronto e organizado em conteúdos com informações, coisas e fatos isolados.
-É uma representação mental, personalizada, ou seja, moldada à nossa maneira de representar, pensar e interpretar algo.
ENSINO

 -Dá-se pela transmissão de informações e técnicas com ênfase maior nos fatos.

-É centrado no professor.
-Correlaciona-se a aprendizagem (não se ensina quando ninguém aprende).
-Tem por metodologia estimular o raciocínio, por meio da exploração e descoberta.
APRENDIZAGEM
-Dá-se por repetição das informações e seu armazenamento na memória.
-Ênfase em respostas certas não incentivando o aluno a pensar e raciocinar.
-Dá-se pela oportunidade do ato de pensar e raciocinar e pelas descobertas realizadas pelo aluno.
-É um processo prazeroso e autêntico.

PROFESSOR
-Gerenciador da aprendizagem do aluno e inibidor de sua capacidade intelectual, muitas vezes oferecendo respostas prontas.
-Tem por responsabilidade ministrar aulas, pouco se importando se o aluno aprende ou não.
-Tem antipatia para com os erros.
-Tem por função ajudar o aluno a fazer descobertas e aprender.
-Seu sucesso como educador é avaliado em termos de seu sucesso com os alunos.
-Tem prazer em discutir os erros e as idéias intuitivas do aprendiz, tratando-as como hipóteses.
ALUNO
-Vai para a escola para receber educação.
-Não faz descobertas autênticas.
-É culpado pelo fracasso escolar.
-Tem a responsabilidade de aprender.
-Descobridor de seu próprio conhecimento.
-Tem seu próprio modo de pensar, suas idéias são representações mentais.
-Ser ativo que utiliza sua imaginação e bom senso para resolver problemas.
MATERIAL DIDÁTICO
-Limitam-se ao estilo exclusivamente expositivo e informativo.
-Levam a uma sobrecarga na memória do aluno.
-Valorizam mapas mentais e buscam a reflexão.
-Valorizam o lúdico.

Quadro 1 – Síntese dos Modelos Tradicional e Construtivista



Acompanhando a evolução tecnológica dos computadores e sua aplicação ao ensino, os modelos de educação com suas teorias de aprendizagem, tem-se passado do paradigma tradicional/instrucionista para o paradigma construtivista/construcionista. O termo construcionismo, criado por Seymourt Papert, é um neologismo do termo construtivismo de origens piagetiana e relaciona-se ao fato de atividades construtivistas de aprendizagem ocorrerem a partir do uso do computador, dando-lhe um novo sentido.

A seguir, fundamentado em Valente (1998) e Papert (1986, 1994), apresenta-se o Quadro 2, que sintetiza os modelos instrucionista e construcionista de educação.


INSTRUCIONISTA

CONSTRUCIONISTA
CONHECIMENTO
-Adquirido por meio da instrução.
-A única maneira de melhorar o conhecimento do aluno sobre determinado tópico é ensinar mais sobre aquele tópico.
-Ênfase na construção do conhecimento e não na instrução.
-A busca do conhecimento específico que o aluno precisa, é que o ajudará a obter mais conhecimento.
ENSINO
-Dá-se no sentido: Computador-Software-Aluno.
-Por meio do computador o aluno é instruído e pode adquirir conceitos sobre qualquer área.
-Dá-se no sentido: Aluno-Software-Computador.
-Tem por objetivo ensinar de forma a obter a maior aprendizagem com um mínimo de ensino.
APRENDIZAGEM
-Aprendizagem centrada no ensino.

-O computador comanda a aprendizagem do aluno.

-A via que conduz a uma melhor aprendizagem é o aperfeiçoamento da instrução.

-Centra-se na aprendizagem e não no ensino.
-A aprendizagem ocorre em razão do aluno estar executando uma tarefa mediada pelo computador.
-O aluno gerencia seu próprio processo de aprendizagem.
-Visa desenvolver a capacidade matética[1].
PROFESSOR
-Repassador do conhecimento e instruções.
-Tem o papel de especialista de conteúdos.
-Criador de ambientes de aprendizagem.
-Agente facilitador do processo de desenvolvimento cognitivo do aluno.
-Mediador da interação aluno-computador.
-Tem por função a investigação da estrutura mental do aluno.
ALUNO
-Receptor passivo do conhecimento.

-Consultor de instruções.
-Construtor de seu próprio conhecimento.
-Gerenciador da informação, da solução de problemas e da aprendizagem independente.
O USO DO COMPUTADOR
-Máquina de ensinar (instrução programada).
-Informatização dos métodos de ensino tradicionais.
-É introduzido na Escola como disciplina curricular, é o aprender sobre computadores.
-Ferramenta intelectual para promover a aprendizagem.
-Meio de transferência do controle do processo de ensino do professor para o aluno.
-Veículo auxiliar no processo de expressão de nosso pensamento e da reflexão.

Quadro 2 - Síntese dos Modelos Instrucionista e Construcionista

            Ao comparar modelo tradicional (Quadro 1) e instrucionista (Quadro 2) percebe-se em relação à CONHECIMENTO que se mantém a linha enciclopédica que valoriza o volume de conteúdo; O ENSINO é caracterizado pela centralização e transmissão de informações; A APRENDIZAGEM ocorre de forma mecânica com ênfase na fixação pela repetição; O PROFESSOR caracteriza-se pela centralização do saber e o administra ao receptor ALUNO que age como ser passivo; A utilização do computador ou de livros reflete uma linha que prioriza a instrução e a memorização.

            Nos modelos construtivista e construcionista, embora Valente (1998) assegure que é a presença do computador como ferramenta que faz a diferença entre eles, não se notam diferenças significativas ao se comparar suas características citadas no Quadro 1 e Quadro 2 em relação à: CONHECIMENTO é algo fluido que se molda ao aluno, à sua necessidade e é colocado em seus termos; O ENSINO construtivo cede a vez para a APRENDIZAGEM como ato de prazer e descobertas; O PROFESSOR é o agente de mediação e motivação da aprendizagem, enquanto que o ALUNO caracteriza-se por ser ativo no processo de apreensão e de geração do conhecimento, tornando-se autor de sua própria aprendizagem. Entretanto, O USO DO COMPUTADOR como ferramenta intelectual e meio auxiliar do processo ensino-aprendizagem reserva potencialidades que vão além do MATERIAL DIDÁTICO da linha construtivista, que na tentativa de se superar, busca trabalhar materiais reflexivos e dinâmicos.

            Para adequar-se ao paradigma construtivista/construcionista, cujo foco é o aluno, a aprendizagem e a construção do conhecimento, propõe-se a transformação da sala de aula em um ambiente interativo de aprendizagem, como cenário das interações sociais necessárias ao desenvolvimento cognitivo, em que o software educativo venha a ser o instrumento mediador destas interações e o elo entre conhecimento e aprendizagem.




[1] Matética é o conjunto de princípios norteadores que regem a aprendizagem (PAPERT, 1986, p.74).



[1] A ecologia cognitiva é o estudo das dimensões técnicas e coletivas da cognição (LÉVY, 1993)